domingo, 12 de setembro de 2010

Porque hoje é domingo.

Porque hoje é domingo, o mais ranhoso dia da criação, estou, por definição, mal disposto.
Tenho para mim que deus estava de mau humor quando inventou semelhante período de tempo. É algo que não se vê em nenhum outro "departamento" da natureza. A inacção proporcionada por este hiato, leva-me a utilizar os dois neurónios sobrantes muito para além das suas próprias capacidades. Até a imaginação culinária.
Espojado por sobre um sofá, relendo algumas passagens das "Farpas", sou devolvido à realidade pelo tortuoso verme que habita o meu estômago. Ouve lá, ó meu! Hoje não me dás umas sopas para poder regressar, tranquilamente, à minha letargia? Tive vontade de lhe torcer o pescoço. Assim tivera eu as ferramentas...
Arrasto-me até à cozinha, olho o fogão e, intimamente, insulto-o com todas as minhas forças ocultas. Aquelas que nem eu próprio conheço. Deixo-me apenas ficar, inerte e...confiante de que uma qualquer idéia brilhante me iluminará o caminho.
Odeio pasta. Odeio a mera lembrança de tal adereço mastigativo. Rodo sobre o meu próprio eixo e, sabendo-me a boca a papel de música, dirijo-me à escova de dentes. Não cheguei à ablução. De repente, apeteceu-me uma merda qualquer "al dente". Fosse o que fosse. Tinha de ser "al dente"! Olhei em redor. Espreitei a depauperada despensa. Salta-me pasta diante dos olhos! Foda-se...digo para com os meus entrefolhos. Seja!
Cozida aquela coisa, picado o alho, vertido o azeite (o azeite!....essa idéia sim, vale a pena acarinhar!), salteio a coisa, por forma a que ganhe algum sabor. E vida...
Regresso à sala carregando o tabuleiro. Liguei o aparelho de televisão. A hora coincidia com um qualquer noticiário avulso.
Chupei o esparguete, junto com as alarvidades de Alegre e as bolçadelas arrotantes da dona Estrela! E uma recusa anibaló - presidencial a uma malga de verde-tinto. Coisa que, por si só, deveria dar lugar a prisão efectiva! Sem possibilidade de recurso para instâncias judiciais superiores!
Há coisas que só mesmo no domingo, acontecem!
Vou dormir.