sexta-feira, 7 de setembro de 2018

A razão de Ramalho Ortigão.

Não sei quem é esta triste figura, nem tão-pouco me interessa. 
Fiquei a saber que é militar, que deve ser alguém que gosta de se ouvir a si próprio (ao ponto de lhe terem posto um microfone diante da cara) e que, irritantemente, se esquece de que não está a falar para taratas, nos internos da caserna. Que, deste lado da trincheira, há gente com uma réstea de inteligência e que sabe qual é o lugar do pessoal militar na estrutura de uma sociedade civilizada. Neste particular, este título diz mais do estado da arte merdosa ao qual chegou este triste pedaço de terreno, do que dele próprio. 
Para responder a este tipo de intendências existia (presumo continue a existir) uma coisa que se chamava regimento de disciplina militar. Verifiquei agora que o sr Cavaco promulgou, em tempos, alteração para, regulamento.
Finalmente, tenha-se presente que, a fazer fé na capa do jornal, a entrevista é feita ao tenente-coronel e não ao cidadão X. 
A avaliar pela capa, porque, como calcularão, não perco tempo a ler merdas eructadas por gente que, tendencialmente, pende para o pernóstico, constato dois visados que, agrade-lhe ou não, são seus superiores hierárquicos. Como militar conhecerá, seguramente, melhor do que eu, da importância do respeito pela hierarquia, dentro de uma instituição como a castrense. Talvez e a talhe de foice, não lhe fosse pior (re)ler Salazar, "...não censuremos na educação antiga a ausência de uma liberdade que não fazia falta às almas de homens criados para o respeito das hierarquias".
Se o ministro é boy e incompetente (e é, efectivamente, ambas as coisas), isso apenas aos cidadãos comuns, que o votam ou não, compete gargarejar. Nunca ao sr tenente-coronel, por alarvemente indizível que tivesse sido a malfeitoria  que lhe foi perpetrada.
Refere igualmente que é a maçonaria quem manda na tropa. Pois se assim é, é-me lícito deduzir que, enquanto militar, nada fez no sentido de evitar que tal situação se verificasse. 
Meu caro sr tenente-coronel. Tem todo o direito de manifestar a sua indignação e tirar o competente desforço, se assim o entende. Mas para isso existem os canais próprios.
O recurso hierárquico interno. 
O contribuinte não quer saber dessas agonias. A menos que esteja a querer fazer chegar um qualquer "recado embrulhado". No caso em que, deve ser completamente claro.
Estarei atento à reacção (ou falta dela) do seu comandante-chefe.
Pela primeira vez estará confrontado com algo que vai um pouco mais além dos banhos fluviais e da distribuição de afectos e beijinhos a granel.
Cá estarei para perceber se conseguiu libertar-se da pele do comentador.
Ou se faz questão em manter-se a nulidade política que tem exibido.
Não há como fugir. Ramalho Ortigão teve toda a razão.