terça-feira, 18 de setembro de 2018

O Pio XII, algures, numa dobra do tempo.

Franco Nogueira fará 100 anos nos próximos dias. Escrevo fará (e não faria), apenas porque sim. E porque não me apetece que homens como este, se finem. Tenho lido por aí disparates em torrente que não encaixam, de todo, no homem que conheci, de uma forma "quase provocadora" (porque deliberada) e com quem conversei longamente, quantas vezes a sós ou, em alternativa, muitíssimo bem acompanhado. Não é verdade, José Luís Seixas? 
Durante todo o tempo de estudos universitários, alojei o esqueleto num colégio universitário, ali, à 28 de Maio. Pouco ou nada tinha de "lar estudantil", e muito de delicioso "antro" conspirativo. Dirigia-o ainda, o seu fundador, Joaquim António de Aguiar (o conspirador-mor), dito de padre. Embora, de padre, tivesse tanto como eu. FN era um dos habituais frequentadores da casa. Dia sim, dia não, lá se produzia ele, sózinho ou ladeado pela sua simpática mulher. A Verinha, como gostava que lhe chamassem. Até por nós, os então putos. Um belo dia, o sistema sonoro da casa, debita o meu nome e insta-me a produzir-me no gabinete do director. Bem mandado que sou (é mentira, mas fica bem), lá fui.
FN e JAA estavam já acompanhados por um rapaz, cujo nome é dado por irreproduzível nesta minha página, e que, já então, tudo fazia para andar, permanentemente, em bicos de pés. Questão de começar a mostrar-se à sociedade, apenas.
- Senta-te aí porque quero que conheças o Embaixador Franco Nogueira, pessoa com quem, certamente, poderás aprender uma coisa ou duas. Foi uma conversa dispersa sem nada de extraordinário a assinalar. Dias volvidos dou com ele, só, sentado na escada de acesso ao colégio. Acompanhei-o na assentadura. Contei-lhe do meu regresso ao, já então, portugal, do que tinha visto e vivenciado. E das diligências que ia desenvolvendo, para tentar perceber minimamente o "funcionamento" da direita política nascente. Os partidos políticos, já naquele então me aborreciam de morte. Entornou-me o olhar para cima, sorriu cândidamente, e dispara-me à queima-roupa: jovem, se aceita uma sugestão de uma ruim cabeça, afaste-se dessa gente toda. Nada têm para dar a eles próprios, quanto mais aos outros. E, de rajada, refere três ou quatro nomes que era mister ignorar. Um deles, um seu coevo. Talvez tenha sido esse momento definidor, o princípio do meu afastamento total da coisa política. Foi a partir daí que comecei a não levar nada a sério. Ainda para mais, quando o tempo que ia passando, lhe ia dando cada vez mais razão. Nesse particular, obrigado Embaixador.
Muitas outras coisas ficam por contar. De Adriano Moreira a Fraga Iribarne. Mas ficará para outra ocasião.
Atrás de tempo, tempo vem.