quinta-feira, 11 de junho de 2009

Caro Doutor Cavaco

Leio de si que:

"Em tempos reconhecidamente difíceis como aqueles em que vivemos, não é aceitável que existam portugueses que se considerem dispensados de dar o seu contributo, por mais pequeno que seja."

Não é aceitável...

É Vexa livre de emitir os juízos que entender, sempre que entender e no lugar que entender. No que me diz directamente respeito, há um limite que eu imponho e do qual não abdico. Aquele que coincide com o meu direito de opção. Nesse particular, mantenho-me animalescamente territorial. E o meu direito de opção, traduz-se em algo muito simples. Continuo a preferir nomeações a eleições. Continuo a preferir uma cabeça pensante em cima de um corpo, do que um corpo com várias "cabeças", tendencialmente, pouco pensantes! Assim sei com o que conto. E, acima de tudo, sei a quem pedir contas, se for caso disso.

Votei uma única vez em toda a minha vida. Em 1975 e vivia fora de Portugal à época. Vim propositadamente para o fazer. Portugal era então, um imenso "grafitti". Os prédios não tinham cor. As "obras primas" iam desde "o teu voto é importante, não o desperdices!" até ao "o teu voto é uma arma. Se votares, ficas desarmado!". O condicionamento industrial dera lugar ao condicionamento mental. Já nesse antanho era muito pouco dado a condicionamentos. Fossem eles de que natureza fossem. À saída de Lisboa, hordas de selvagens ululantes, directamente saídos de uma qualquer caverna perdida da era do Neanderthal, arrogavam-se o direito de incomodar quem entrava e saía da cidade, com o objectivo de "verificar" se eram transportadas armas!! Berravam a plenos pulmões - ainda hoje estou para perceber a quem - que, "a reacção não passará". Confesso-lhe que 20 minutos depois de desembarcar, já tinha vontade de tomar o mesmo avião, regressar ao ponto de partida e esquecer que este país tinha existência formal.

Não foram 20 minutos depois. Foram 20h depois. Claro que "entrementes" desincumbi-me do meu "dever cívico", seja lá o que for que isso signifique! No preciso momento em que introduzia o malfadado papelinho na urna, só me vinha à cabeça a imagem daqueles "azeiteiros" que barravam o caminho a toda a gente. Aqueles votos são iguais ao meu? Estava tomado o meu banho de democracia. Continuei a preferir água limpa. Especialmente a partir do momento em que os "democratas", tentaram resolver diferendos com o meu pai, deitando mão ao argumentário tonitruante, muito em voga na época!! Colocando - lhe, "democráticamente", 3Kg de TNT à porta de casa!

Para mim bastava. Nesse preciso momento perdeu-se, definitivamente, um putativo democrata. Continuo a preferir a autoridade esclarecida, exercida por gente cuja cabeça tem outras funções que não apenas separar as orelhas. O problema em Portugal foi terem confundido autoridade com autoritarismo. E com demasiados militares à mistura, para meu gosto. De então para cá, é história. Toda a gente conhece. Tal como nos regimes musculados, foi eliminado quem poderia constituir um obstáculo e foram sendo premiados todos os prestadores de vassalagens que se foram aproximando dos poderes instituídos.

Dispenso-me de exemplificar, por desnecessário. O resultado está à vista de todos.

E diz Vexa que não é aceitável?