terça-feira, 23 de junho de 2009

Negócios da "bola"

Sou, por norma, muito pouco dado ao fenómeno futeboleiro. Acompanho pouco e leio nada. Mas, mesmo não lendo, é impossível deixar de "levar nas trombas" com o que se vai passando naqueles arredores. Dei comigo a pensar no porquê das loucuras que, a espaços, vão tendo lugar. Especialmente visíveis de há dez anos a esta parte.
Que me desculpem os "puristas" da matéria mas, algo de dimensão inimaginável está, definitivamente em marcha.

Um belo dia, algures no tempo, alguém entendeu que o futebol tinha de deixar de ser um fenómeno puramente desportivo para passar a ser uma "commodity", transaccionável, como outra qualquer.

Há sempre gente muito imaginativa. E quando essa imaginação vem acompanhada de meia dúzia de argumentos irrefutáveis, os actores financeiros costumam entrar em frémitos orgásmicos!! Aqui, sei do que estou a falar!!!
Qualquer investidor em qualquer lugar do mundo, quando põe 1 quer, pelo menos, obter 2. Fora do acervo típico de negócios ilícitos, poucos sobram que possam proporcionar retornos daquele tipo.

Um deles é, seguramente, o futebol. Contém em si próprio, os genes do sucesso. Marca, multidões e consequente merchandising.
Está encontrada a fórmula mágica para pôr em ânsias qualquer mortal a quem saia dinheiro pelas orelhas!
Falta porém acrescentar a quarta perna, sob pena da mesa ficar em equilibrio instável. E essa quarta perna são os direitos televisivos.

Com estes adereços, tentemos então construir o cenário.
É evidente que o actual modelo organizativo do futebol, está esgotado. É um limão que está completamente espremido. Há que encontrar um novo modelo.

A primeira grande base desse novo modelo vai ser a televisão. Atentemos por um momento no que se passa, só em Portugal. A TVI é detida pela Prisa que, para todos os efeitos está "desfeita". 5 mil milhões de dívida "encostada" e que em 6 meses "despenca" 80%, está condenada. Sem apelo nem agravo. Estão doidinhos para se livrarem desta participação. Vão vender por qualquer preço. O problema da Prisa é espanhol. Não é Moniz nem Moura Guedes. É o Real Madrid e o Barcelona. Perderam os direitos de transmissão da 1ªLiga, para a Mediapro. Foi, aliás, uma guerra muito suja! Nem Zapatero conseguiu evitar aquela derrota. Apesar de já estar a trabalhar na compensação! A Prisa começou a "morrer" aí. Foi, segundo as más línguas, a causa próxima da morte de Polanco.

Muita gente tem estranhado a subida em bolsa da Impresa. 130% numa semana é, de facto, obra! Mas é apenas aquilo que, no mundo financeiro, é conhecido como "engordar o porco". É a empresa a comprar as suas próprias acções. Significa venda à vista. Balsemão quer vender porque, manifestamente, não tem arcaboiço para o que se vai seguir.

Seria eu o último a surpreender-me se, a curto prazo, a SIC e TVI aparecessem fusionadas. Sob o mesmo accionista.

Multipliquem agora isto por todos os países europeus. Essa guerra vai ser travada entre dois monstros. A Vivendi e os seus Canal Plus e a SkySports de Rupert Murdoch. Talvez aqui se compreenda muito da actuação de Platini à frente da UEFA. Acho, no entanto, que lhe vai sair o tiro pela culatra!!

É óbvio que a crise financeira que estamos a atravessar, precipitou este projecto. Os activos a preço de saldo são demasiado tentadores!!

Posso estar enganado. Mas o grande projecto será a criação de uma espécie de Super Liga Europeia ou de 1ª Liga Europeia. O nome será indiferente. Que será jogada nos mesmos moldes dos campeonatos nacionais. Todos contra todos a duas voltas. E aqui entram as marcas. Que vão ter uma espécie de lugar cativo nessa liga a organizar. Haverá talvez uma dezena que será inamovível. E uma delas, goste-se ou não, chama-se Benfica. É a única marca que Portugal produziu. No mais recôndito lugar de África ou da Ásia, Portugal significa Benfica. Isto pode não nos agradar (Portugal, apesar de tudo, teve outros méritos!) mas para os tubarões, vale ouro. E é com esse ouro que eles contam.
Do meu ponto de vista o ouro deles (os inamovíveis) vai ser o seguinte:

Inglaterra: Manchester United e Liverpool;
Espanha: Real Madrid e Barcelona;
Itália: AC Milan e Inter de Milão
Portugal: Benfica

Numa segunda linha - sempre na perspectiva dos investidores - incluiria um Ajax, um Bayern de Munique e um Arsenal.

É fácil de perceber que são "máquinas de vender". E só isso lhes interessa. Fácilmente se encontrarão mais quatro ou cinco, por forma a que esse campeonato se desenvolva em trinta jornadas. E será por entre esta dezena de clubes que circularão os melhores jogadores do planeta. Dinheiro já não será problema porque entre venda de direitos de transmissão televisiva e de merchandising, ele vai correr a rodos!

Haverá quem estranhe não incluir nenhum clube francês. Salvo melhor opinião, França não tem nenhuma "marca vendável" no futebol. Platini sabe disso melhor que ninguém! Daí a minha referência aí para cima, sobre o tiro lhe ir sair pela culatra!...

Jogos à 1h da tarde para que o Oriente possa assistir à hora de jantar, tal como já se faz em Inglaterra. Ninguém duvide que é dessas latitudes que virá o grosso das receitas.
De caminho vão nivelar-se por cima os diferentes campeonatos nacionais. Quem não quererá ascender àquela espécie de liga dourada, nem que seja só por uma ou outra época?
Esta "salganhada" à volta das eleições no Benfica é já preparar o terreno para o que se avizinha. Esses voos já não serão para Vieiras nem Monizes. Vai ser para quem os investidores indicarem. Com ou sem o acordo dos sócios. Cá como em qualquer outro lugar, os bons jogadores e os golos, farão esquecer todas as vicissitudes.
Isto provavelmente levará à criação de uma super Federação europeia de futebol que, naturalmente, irá absorver a UEFA, por despicienda. E o que é mais curioso é que tenho a sensação que a FIFA sancionará este projecto. Só terá a ganhar com isso.
A partir de agora estou preparado para todas as reacções. Até para aqueles que acham que "este gajo está a pedir internamento imediato e com camisa de forças"!!
Parece ficção, não é?
E se não for?
O mundo está um lugar perigoso!!!