domingo, 5 de julho de 2009

Poupe-me!

Só hoje reparei numa artigalhada de Daniel Proença de Carvalho no Económico de ontem. A páginas tantas, refere que:

A própria Justiça deixou de se preocupar com a ritualidade, a discrição, a auto-contenção, a dignidade institucional. A Justiça faz-se na violação diária do segredo de justiça, em suspeitas cumplicidades com jornalistas, na mediatização dos casos; as televisões transformaram-se no circo em que os "poderosos" são lançados às feras.

Esta brilhante tirada fez-me sorrir, a vários títulos! Desde logo porque "fala" como se ele próprio não integrasse essa mole humana que faz, do que gravita à volta da Justiça, o seu modo de vida. Nada a opor a quem o faz. Acontece porém que nunca o vi fazer nada de verdadeiramente consequente, no sentido de promover qualquer alteração do estado de coisas! Teve uma excelente ocasião de o fazer, quando foi convidado a patrocinar a Casa Pia no enjoativo julgamento que ainda por aí se arrasta! Mas não. Preferiu desertar! Além de "chato", é muito propício às fugas de informação e pouco rentável. Como diria o saudoso Vasco Santana...compreendi-te!!

No mesmo parágrafo arremete contra o jornalismo rasteiro que, efectivamente, tomou conta da paisagem. Neste particular, ocorrem-me duas coisas. A primeira e se bem me lembro, é que foi ele - enquanto ministro de Mota Pinto - que se "esgadanhou" para que os títulos de imprensa que haviam sido nacionalizados, fossem definitivamente desintervencionados e entregues, de novo, à iniciativa privada. Ele lá sabia do que falava!... vinha de director do Jornal Novo! E, voou, directo para a RTP. Deve ter sido esta episódica "experiência televisiva" que o convenceu a liderar a apresentação de um projecto de candidatura - que ele já definia como "favas contadas!" - ao concurso para a atribuição dos novos canais privados de televisão. Chamava-se o seu projecto TV1. Pergunto-me, caso tivesse ganho, que tipo de jornalismo se praticaria naquela casa? Não seria um jornalismo feito de cumplicidades e que transformaria o seu canal num circo? Porque, se assim não fosse, duvido que tivesse sobrevivido!

Mas, não vale a pena esforçar-me mais. Ele próprio dá a resposta:

Os portugueses revelam historicamente uma tendência para respeitarem as instituições quando as temem e muito pouco respeito quando deixam de as temer. Em Democracia, temos tendência para o apoucamento das instituições e de quem as serve; os políticos são à partida mal vistos e quando deixam de ser temidos, passam a ser insultados nas paredes, ruas, jornais, rádios e televisões.

Não imagina o quanto estou de acordo consigo!