domingo, 30 de agosto de 2009

Kafka à beira-mar*

Essencialmente por razões de higiene mental, suspendi a leitura da imprensa portuguesa.
Já não tenho estômago para o índice de toxicidade que expele.
Em contrapartida, vou espreitando outros escrevinhanços com origem noutras latitudes.
O que, invariávelmente e malgré moi, me trás de volta ao ponto de partida.
Hoje foi isto. O facto em si, nada tem de surpreendente.

O que lhe subjaz, já nem tanto!

A inexorável aproximação à meia década dos 50, já me dá recuo suficiente para poder ter perspectiva. E, posso garantir que não me recordo de momento nenhum que, remotamente, se pareça com o que estamos (todos) a atravessar.
Tenho estado especialmente atento às caras e ao "estar" das pessoas com quem me cruzo. Hábitos que me ficaram de outras eras. E que, agora, me têm sido de grande utilidade. O português não só se perdeu da sua própria História como, e o que é mais grave, se perdeu de si próprio.
Tornou-se um zombie, incapaz de pensar, incapaz de traçar um caminho, incapaz de perceber o que lhe vem acontecendo, incapaz de reagir, incapaz de gritar um simples "basta"! Apenas está ali. Porque sim. Como se tivesse perdido a sua própria razão de existir. Se é que alguma vez a teve!
O "esfarelar" dos valores que vai estiolando este país e, de uma forma geral, o mundo ocidental, vai ter consequências. Tem de ter consequências. Nada nem ninguém resiste a semelhante dislate durante muito tempo.
"Sente-se" a sopa a borbulhar, dentro do caldeirão. O "entornanço" já esteve mais longe.
Até o caos tem uma ordem própria!


* Título de uma obra de Murakami