sábado, 30 de janeiro de 2010

O insuperável fascínio do "preto e branco".

Nestes tempos que vão correndo, impõem-se limpezas interiores (eu chamar-lhe-ia mesmo, esfreganços!) sob pena de virmos a morrer daquilo que não devemos.
O índice de toxicidade política que anda no ar, aproxima-se do intolerável. Como tal, há que convocar a memória. Emergiu então, Peter Sellers, no horizonte!
O enorme Peter Sellers. Vai daí dediquei-me, com afinco, a duas fitas - de enfiada! - que há décadas não via.

A primeira, uma coisa levezinha de 1970, mas que tem o condão de tirar do sério - no melhor sentido do termo! - o mais empedernido dos espíritos.
"There's a Girl in my Soup", co-protagonizado por uma, então, jovem (e bonita!) Goldie Hawn.
Sellers como peixe na água! A ironia inteligente e desarmante, como só ele sabia usar. Por vezes, bastava-lhe o sorriso! Claro que, tinha também o apoio de excelentes textos. Coisa que hoje, é uma raridade. Era, e é, dos pouquíssimos actores capazes de me "olear" o enferrujado mecanismo das gargalhadas!

Tomado que estava o aperitivo, passei então ao "conduto".
E que conduto! Fui ainda mais atràs. A 1964. Ao "quase-início" de Stanley Kubrick. A um daqueles filmes que deveria encabeçar a lista de "must see", de toda a gente.
Dr Strangelove.
Independentemente do tema - muito em voga, à época! - fica para a posteridade, o monumento de representação que Sellers nos proporciona. A naturalidade com que "veste as peles" de presidente dos Estados Unidos, de cientista louco resgatado a Hitler, de adido militar britânico junto do exército americano, releva do génio. Puro e simples. A "tal" ironia (da qual dependia todo o equilíbrio da sua forma de representar) que se lhe sente por detràs de muitas das "deixas", só lhe amplifica aquele génio.
Um filme que deveria ser de estudo obrigatório em qualquer curso de representação, do mais modesto ao mais elaborado.
Não sei se o é. Mas se o não é, devia ser!
Revi-o ontem. Já estou com saudades.