sábado, 13 de março de 2010

Tenho esperança.

Conheci João Paulo Borges Coelho há uma boa dúzia de anos em casa de um amigo comum que, à época, vivia ali, ao Bairro do Triunfo, em Maputo.
Homem de poucas falas - o que não deixa de ser vagamente intrigante, sendo ele um professor universitário! - mas que, quando "cirúrgicamente provocado", reage ao ensejo!
Ou não tivera ele nascido no Porto! Por muito longe que se esteja e moçambicano que se seja, a "costela" nunca trai.
O resultado foi um simpático final de tarde, para o qual convocàmos algumas das nossas mais descabeladas experiências de vida, ao ritmo sempre vibrante de umas quantas garrafas de Famous Grouse.
Nesse então, se alguma coisa tinha escrito, desconhecia por completo.
Anos volvidos e coincidindo mais uma das minhas estadias com um insidioso aniversário, resolveu - em boa hora! - uma grande amiga, "repor-me" em contacto com ele, através do "As visitas do Dr Valdez". Que tinha acabado de sair do prelo.
Foi uma espécie de droga. Nunca mais deixei de ler Borges Coelho.
Li-lhe tudo o que publicou até hoje. Tem altos e baixos, como toda a gente. Mas há algo que nunca falha.
A forma como "dança" com as palavras. A forma como, mesmo antes de darmos por isso, já estamos a dançar com ele.
Algo que, na língua portuguesa, só reconhecia em Ubaldo Ribeiro. O trópico e o anti-trópico a conspirarem. Mas uma conspiração em que apetece participar. Da qual nos sentimos parte inteira.
A fotografia que encima este escrevinhanço, reproduz o seu último livro. Está longe de ser o melhor. Do melhor, continua a ser a utilização do português. O infindável baile das palavras.
Foi um livro premiado. Premiado por alguém que deita livros para o lixo, para ter espaço nos armazéns. Coisa que não me deixa nada descansado.
Fico sempre "desconfiado" de autores premiados. Nunca sei se são capazes de sair do transe.
Espero que o João Paulo não tenha, sequer, entrado nele!