sábado, 5 de junho de 2010

Crenças, querenças e crendices.

Um dos raros privilégios que me é concedido pela circunstância de viver no que resta deste malfadado país, é o de poder olhar Lisboa, do topo da sua mais alta colina. Hoje, enquanto matabichava - gosto de o fazer em pé, à janela, com a cidade a espreguiçar-se diante dos meus olhos! - reflectia (se é que ainda o consigo!) sobre as pessoas que, de não se verem, apenas presumimos existirem!
Imaginei os risos, os sorrisos, as gargalhadas, os lamentos, os desesperos, os choros e os rangeres de dentes, que se adivinham nos internos desse casario que escorrega pelo vale, como pedra por ladeira.
Por entre um sumo de laranja e umas mordidelas numa torrada, perguntei-me, que mais poderá vir a acontecer a estas "colinadas" e cordatas gentes que, à força de tanto nos cruzarmos nestas íngremes ruas e ruelas, me(nos) cumprimentam(os) como se fôssemos todos, à uma, membros da mesma família. E, se calhar, somos mesmo!
O cheiro nauseabundo que emana do "podre político" que se abateu por sobre estas pobres cabeças, veio-me, qual seta envenenada, directo ao nariz.
E, tal como Ramalho Ortigão, um dia, "estratificou" os graus de inteligência em - e por ordem decrescente! - humana, animal e militar, dei comigo a estratificar, no hoje, a forma como as pessoas olham e sentem as suas próprias existências.
Já com o café na mão e com as volutas do fumo esvoaçando para fora do meu cigarro, dando ganho de causa a uma espécie de baile que se interpunha algures, entre o meu olhar e Lisboa, cheguei, tal como ele, a uma conclusão tripartida!
Há os que crêem, os que querem e aqueles que, não conseguindo nem uma coisa nem outra, procuram refúgio numa espécie de "panteão" etéreo que, de tão incompreensível se torna quase luminoso.
Jamais saberei qual daquelas "camadas" vai ter razão. E isso, entristece-me!
Quando regressei à terra, já o café estava frio!