sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A aula era de quê?

Um belo dia, algures pelos finais de '76, franqueei uma porta ali à Palma de Cima.
Tinha-me sido atribuído o nº1 do primeiro curso de direito que aquela casa ia ministrar. Olhei à minha volta e apenas via "miudagem" de 17 anos! Eu, um já maduro moçoilo quase a dobrar os 21!...
Desci ao pequeno bar, pedi um café ao Carlos gordo e rodei o olhar pelo horizonte possível. Onde estão os "velhos", perguntei-me em silêncio. A primeira abordagem foi um rotundo fracasso. Era um novo, já então com espírito de "velho"...imaginem hoje, em que meio país entende por bem levá-lo a sério!
Insisti. Nada. Continuava a ser "presenteado" com hordas de "miudagem", saída directamente dos liceus lisboetas.
Porra. Onde é que eu me vim meter?
Havia, no andar térreo, um anfiteatro, onde ia ter lugar a primeira aula de qualquer coisa. Sentei-me na última fila. Estava mais interessado em ver quem entrava.
Em dado momento, dou com três criaturas, sentadas a meu lado, mergulhadas no entre-escrutínio. Ao qual me juntei, escusado será dizer.
Não sei se foi o destino, se a boa ou má fortuna! Demos uns com os outros. Se calhar procuràvamos a mesma coisa.
Tentei a minha sorte. Eu sou o Amado...as reacções em diferentes timbres, deram como resultado, eu sou o Zé, eu sou o António e eu o Domingos. Respectivamente apelidados de Horta e Costa, Almeida Lima e Duarte Lima. Mais um minuto de vasculhanço mútuo e estavam encontradas algumas das "almas gémeas"! Todos tínhamos 20 anos. O Domingos faria 21, daí a dias. Leva-me três meses de avanço. Estás velho!...
Senti-me confortabilizado. Estava com os meus!
Foi o princípio de 6 anos de história(s).
O Domingos sabe que o Duarte Lima não me interessa. Disse-lhe isso mesmo, em diversas ocasiões. Especialmente desde que entendeu por bem, tornar-se corredor de fundo nas pistas políticas.
A minha solidariedade não vai para o Duarte Lima. Vai direitinha e toda para o Domingos.
Esse mesmo, o que eu conheci naquele já longínquo dia de '76 e que procurava a mesma coisa que eu.
As curvas desta vida já não permitem que o Zé (Horta e Costa) possa dizer presente! Ouso fazê-lo em nome dele. Porque tenho a certeza que, também ele, esteja lá onde estiver, está solidário contigo, hoje, aqui e agora.
Um forte abraço, Domingos.